ZONA MORTA II {SAMANTHA DE SOUSA}





Era noite. Nem cedo, nem tarde. Era uma noite quente. Os dois desciam a avenida depois de um breve passeio. Paulo falava freneticamente, Júlia ouvia sorrindo, vez ou outra concordando. Paulo segurava no ombro de Júlia com uma mão e com a outra balançava o chaveiro, estavam próximos de casa. Subitamente um vento frio passa e um silêncio abafa a voz de Paulo, todas as luzes se apagam. A escuridão era opaca, Júlia não pode enxergar e já não sente a mão de Paulo sobre seu ombro. Tudo se tornou silêncio naquela densa escuridão. Júlia sente os pelos se eriçarem com o frio e não consegue se mover. Ela sussurra o nome de Paulo, e a sua voz ecoa naquele vazio. Júlia não consegue enxergar absolutamente nada ao seu redor. Um desespero vai crescendo dentro dela. Ela corre, precisa fugir, precisa encontrar Paulo. Júlia corre até sentir vertigens. Após a breve tontura, a escuridão vai se tornando menos densa, consegue, então, enxergar alguns contornos e movimentos. Júlia não saíra do lugar onde estava quando aquilo começou. Com os olhos apertados para enxergar naquele breu, que mesmo um tanto dissipado, ainda era pouco ou quase nada nítido, Júlia diferencia entre as árvores, a meia distância de si, um movimento. Novamente ela chama por Paulo, mas ninguém responde.  O vulto andava pesadamente, não reagia ao seu chamado. Ela começou a caminhar ao seu encontro, mas por mais que andasse a distância não se consumia, embora ele também caminhasse em sua direção. Respirava com dificuldade, o frio se intensificara. Sem que percebesse, o vulto desaparecera, olhou ao redor, não havia ninguém. Precisava voltar para casa, estava perto. A chave? Levou a mão ao bolso e a mesma chave que Paulo sacudia em sua mão estava lá dentro. Voltaria para casa. Entretanto, ao tentar se mover, sentiu como se os ossos de suas pernas estivesse se partindo, era uma dor excruciante. Ao abrir os olhos marejados de lágrimas, viu rente a si aquele mesmo vulto. Parecia uma sombra, entre o nebuloso e o sólido. Não distinguia nele uma face, seu rosto era feito de várias faces em confusão. A criatura abria a boca e várias vozes gritavam lá de dentro. Júlia não conseguia se mover nem respirar. A criatura colocou sua mão sobre o rosto de Júlia. O toque daquela mão era extremamente gelado. Júlia sentiu alguma coisa se desfazendo dentro dela. Tudo se tornou branco. Infinitamente branco.
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Era noite. Nem cedo, nem tarde. Era uma noite quente. Os dois desciam a avenida depois de um breve passeio. Paulo falava freneticamente, Júlia ouvia sorrindo, vez ou outra concordando. Paulo segurava no ombro de Júlia com uma mão e com a outra balançava o chaveiro, estavam próximos de casa. Subitamente um vento frio passa e um silêncio abafa os ruídos da rua, todas as luzes se apagam. A escuridão era opaca, Paulo não pode enxergar e já não sente Júlia ao seu lado.

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