RELATOS {SAMANTHA DE SOUSA}


Se há lugares cheios de fascínio e com um vasto imaginário sobre fatos sobrenaturais, estes lugares certamente estão nas regiões mais afastadas das grandes cidades. Estou me referindo a cidades interioranas, o Brasil está cheio delas e de suas lendas e superstições. Os relatos que apresentarei a seguir são baseados nas vivências dos meus pais, histórias que eles contavam nas reuniões familiares, principalmente quando insistíamos em fica acordados até tarde ou quando faltava energia... ah, aquelas horas a luz de vela ouvindo histórias de assombrações serão inesquecíveis, até porque devo a elas inúmeros pesadelos e insônia, mas eram fantásticas! Meus pais passaram a maior parte da vida no interior do Nordeste, minha mãe no Maranhão e meu pai no Piauí, e presenciaram ou ouviram das estórias de família muitas coisas estranhas. Forçarei um pouco a memória para lembrar-me de algumas desses acontecimentos. Não divaguemos mais, pois. Há muito o que se falar por aqui!

Relato 1: A visagem no meio do caminho

Isto aconteceu com um tio meu, na verdade. Quem conta esta história é meu pai. Diz ele que isto se passou num lugarejo chamado Lagoa do Gato, quando seu tio voltava da roça a cavalo. Naquela região era comum que as casas e plantios fossem bem distanciados, o que obrigava seus moradores a cruzarem longos caminhos desertos até chegarem a seus destinos. Como era um caminho rotineiro, meu tio pouco se preocupava com os perigos da região, mas certo dia ele passou por um dos episódios mais sombrios de sua vida. Meu pai conta que este tio demorara a chegar em casa, e quando chegara estava mais branco que o leite, o homem mal conseguia se manter em pé, tampouco falar. A família ficou sem entender o que havia acontecido até ele recobrar as força e narrar sua experiência. Tal qual fazia todos os dias, ele cavalgava de noite rumo a sua casa, mas no meio do caminho surgiu uma aparição, a princípio ele não se incomodou com aquilo, parecia mais uma “toiça” de folhas e galhos despencados de uma árvore, seu cavalo, entretanto, travou no mesmo instante. Ele tentava fazer o cavalo andar, mas o animal só andava para trás e relinchava, foi então que meu tio começou a perceber que havia mesmo uma força estranha, pois o pavor também tomou conta dele. O vulto às vezes parecia se mover, e por alguns momentos pensou ter visto olhos brilhando na criatura. Depois de muito insistir com o cavalo, meu tio deu-lhe dois chutes na barriga e o bicho correu desenfreado, atravessando o caminho da visagem, o cavalo não parou de correr até chegar em casa e nem precisara ser guiado, parecia já saber exatamente par onde ir.

Relato 2: Alma pagã, alma penada

Minha mãe conta que ela mesma presenciara este fato. Quando criança, não recordo se em Zé Doca ou em Caxias, minha mãe, seus irmãos e minha avó moraram numa casinha bem isolada das demais. No caminho entre a cidade e a casa, passavam por um cemitério, minha mãe relata que todas as vezes que passavam por lá era possível ouvir o choro de uma criança. Certo dia, em companhia de uma outra moradora da região, minha mãe e minha avó passavam próximo ao tal cemitério e a mulher lhes explicou o que havia acontecido: tratava-se de uma alma penada, uma criança que morrera pagã. A mulher falou ainda que para que aquela alma tivesse descanso e parasse de atormentar o mundo dos vivos, era necessário batizá-la. Assim o fizeram. Minha avó e a mulher organizaram o material para o ritual, água benta, velas, orações e outros artifícios religiosos. Durante o ritual, o choro parecia ficar cada vez mais alto, mas fora enfraquecendo até desaparecer. Batizaram a criança. Depois disso, minha mãe conta que nunca mais ouviram o choro do bebê.

Relato 3: Papai?

Meu avô materno certamente é a figura mais misteriosa da família, tanto porque ninguém mais sabe dele desde há muito tempo (eu nem cheguei a conhecê-lo), quanto por causa das diversas histórias assombrosas que rondam sua existência. Minha mãe conta que ele era um homem muito ruim e que raramente tinham paz quando ele estava por perto, e ao mesmo tempo em que ele tinha muita sorte para juntar pequenas fortunas, a família estava sempre na miséria, pois ele perdia tudo numa velocidade assustadora. Certa vez meu avô construiu sozinho  e em pouquíssimos dias uma casa imensa, ele se isolara na construção e só apareceu quando a terminou, contudo, logo a vendeu e desapareceu novamente, abandonando a família como já era típico. Mas vamos ao primeiro relato sobre o meu avô! Este, minha mãe mesma vivenciou. Ela conta que, quando criança, vira meu avô transmutado em demônio. Ela dormia e sentiu, de repente, a sensação incômoda de que alguém olhava para ela. Quando abriu os olhos, viu seu pai apoiado no punho da rede olhando para ela, seus olhos, entretanto, não eram humanos, mais pareciam olhos de mosca-varejeira, eram gigantes e bizarros. Quando ele percebeu que ela acordara, afastara-se da rede rapidamente. Minha mãe chamou por ele, mas ele desapareceu no outro cômodo.

Relato 4: Nas mãos do Diabo

Este relato é novamente sobre meu avô, é, sem dúvida, o que mais me assustava. Minha mãe conta que meu avô era perseguido pelo Diabo e que, pelo menos em dois momentos, a criatura se manifestou para ele. Na primeira vez, foi quase um pesadelo, ele dormia na rede e acordou gritando: “Sai daqui, Satanás!” Ele deu um morro tão violento na parede que sua mão passou dias inchada. A segunda vez foi mais aterrorizante, tanto para ele, quanto para quem presenciara a situação. Ele dormia na cama e alguma coisa começou a puxá-lo, ele era arrastado para debaixo da cama e por mais que puxassem para fora, uma força parecia sugá-lo, ele dizia que era o próprio diabo o levando para o inferno. Os filhos conseguiram retirá-lo de lá, todos muito assustados. Muitos ouros acontecimentos bizarros se passaram nesta família e, entre muitas idas e vindas, meu avô desapareceu, até hoje não sabemos se ainda vive.

Relato 5: Samantha?

Esta é a última história e é a mais recente também. Aconteceu já em Paragominas, lugar onde passei minha infância, mas aconteceu já na minha juventude e foi um episódio que se repetiu duas vezes. Minha mãe conta que vira uma garota idêntica a mim, mas não era simplesmente uma sósia e, certamente, era nem era humana. A primeira vez que aconteceu foi dentro de casa, minha mãe me vira saindo do banheiro e jogando a roupa suja na máquina de lavar, chamou por mim e eu respondi, eu estava no banheiro ainda e nem havia passado perto da máquina. A segunda vez foi na rua. Ela tinha o costume de me esperar chegar da faculdade, ela ficava no portão e quando me vira descendo a rua, entrou, contudo, não era eu quem descia a rua. Eu só chegaria algumas horas depois. Era impossível ter confundido outra pessoa comigo, pois além das minhas características peculiares – eu era muito magra, tinha cabelos longos e quase brancos de tão loiros – a garota que ela vira estava vestida exatamente igual a mim, era a mesma roupa que eu usava naquele dia. Eu podia até duvidar dessa história, mas para piorar, a criatura apareceu em uma fotografia minha: eu fotografei de costas o comprimento do meu cabelo, então vermelhos, e uma fisionomia esbranquiçada apareceu no primeiro plano da foto, os contornos formavam exatamente meu rosto. A fotografia, infelizmente, desapareceu nem sei como e até hoje não sabemos como explicar aquilo!
***

São tantos os mistérios que rondam minha família, que pode até assustar pertencer a ela! Hoje eu não tenho mais medo deles, conto-os com certo ar de divertimento. E digo mais, não sigo religião alguma, nem sustento fé em divindades, mas que há muitos mistérios entre o céu e a Terra, disso eu não duvido!

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