Acordou assustada. Tentou abrir os olhos, mas alguma coisa forçava a mantê-los fechados. Não conseguia se levantar, o sono era pesado demais. A mente se agitava, mas o corpo não queria despertar. Respirava fundo e pela boca, era só um pesadelo, precisava deixar ir embora. Tranquilizou-se, abriu os olhos de leve, não enxergava nada.
Tudo
estava escuro aos olhos de Ruth. Já era dia, podia ouvir os passarinhos brincando
no telhado, podia ouvir os passos apressados na rua, as vozes se emaranhavam
desde muito longe. Não enxergava. Passou as mãos levemente nos olhos. Nada acontecia.
Milhares
de perguntas borbulhavam em sua mente e ao mesmo tempo um silêncio tomava conta
dela. Precisava despertar, aquilo não podia ser real. O que fizera no dia
anterior? E no outro dia anterior? E na semana passada? Não se lembrava de
nada. Além de seus olhos, sua mente também se apagara.
Desesperada,
atirou-se da cama e bateu a cabeça contra a superfície de alguma coisa áspera.
levantou-se tentando manter o equilíbrio. É difícil manter o corpo forte quando
não se pode reconhecer nada do que está ao seu redor. Seus passos estavam
colados ao chão, não conseguia levantar os pés. Arrastando-se e tateando a parede,
alcançou a porta do quarto, era como estar em um lugar que não conhecesse. Tudo por
onde passava parecia estar em seu exato lugar, mas ao mesmo tempo tudo parecia
diferente, por vezes mais afastado do que devia, outras vezes tudo parecia
próximo demais.
Precisava
pedir ajuda, mas para quem? Não se lembrava de ninguém que pudesse ajuda-la. Esfregava
os olhos na vã esperança de que pudessem enxergar, mas nada acontecia, começava
a sentir uma agonia crescendo dentro dela e também começava a sentir medo. Sentou-se
no chão, precisava pensar, lembrar, tentar entender o que estava acontecendo. Sentiu
alguém se aproximando, estava muito perto, ouvia os passos lentos, tentou
pronunciar alguma coisa para falar-lhe, mas a presença sumiu antes que a voz saísse.
Havia
alguém ali além dela. Ruth seguiu na direção de onde vinha a presença, foi
andando devagar, equilibrando-se contra a parede, havia uma porta, mas estava
trancada, bateu de leve e a porta se abriu.
— Alguém? — perguntou trêmula.
Uma respiração
forte parecia se escapar daquele novo cômodo. Ruth entrou fixando seus ouvidos
para capturar qualquer som. Sentiu novamente a sensação daquela presença,
alguém passava por ela. Tateou par tocar quem estava lá, mas tudo era vazio. Ruth
estava perdida.
Voltou
a chamar por aquele alguém que parecia se esconder, ninguém respondia. Ruth tremia,
agora também de frio, de repente aquela estranha respiração que sentia tornou-se
um hálito gelado. Deu meia volta para retornar à porta, tateava a parede, mas a
entrada desaparecera. O desespero alcançava seu ápice e ela já respirava com
dificuldade.
Ruth
começou a gritar para ser ouvida ao menos pelos vizinhos, mas seu grito se
perdia naquela escuridão na qual afundara. Tudo era vazio, tudo era silêncio. Não
havia mais um lá fora, não havia mais ninguém. Ruth estava sozinha em seu
pesadelo. Ruth não estava dormindo.